Você já digitou seu nome no Google e abriu as imagens? Cuidado! Você pode encontrar imagens que não se lembra de ter compartilhado kkk foi isso que aconteceu comigo hoje.
Encontrei essa foto mais "malacabada" no google e fui ver o link, e tchanam! uma entrevista que dei para um estudante de Jornalismo da UNESP aqui de Bauru.
Eu tinha me esquecido completamente então só agora vou compartilhar aqui com vocês.
Ahh e depois dá um pulinho no blog Muliere. porque sério, é muito bacana :)


Por Leonardo Manffré
“Olha já te adianto que minha vida é típica de mulheres da periferia kkk por isso só consegui te responder agora. Eu trabalho o dia todo e estudo no período noturno por isso talvez eu não consiga te responder de pronto, ok?”
Desse modo se inicia minha conversa com Karol Lombardi de 21 anos que cursa o segundo ano de Letras na UNIESP. Aproveitando a deixa, pergunto a ela, então, o que seria essa vida típica das mulheres da periferia e ela me responde: “As mulheres em geral vivem desde muito novas a realidade difícil de ser mulher em meio ao machismo, a violência e as dificuldades existentes em comunidades periféricas. São mulheres que se desdobram em vários empregos para manter a casa, mulheres que não conhecem a teoria feminista mas que vivem diariamente o feminismo na pele”.
Ainda, ela ressalta a distância entre teoria feminista e a experiência real da situação da mulher nesse meio. “Há uma grande mobilização atual em torno do tema feminismo na periferia, mas na verdade poucas mulheres na periferia realmente sabem ou conhecem o que esse termo quer dizer, a definição da teoria feminista é extremamente distante da realidade feminina periférica”, esclarece.
Karol conseguiu passar pelas dificuldades sociais produzidas pela desigualdade e hoje cursa  faculdade. Por isso, pergunto a percepção dela quanto as diferentes realidades nas quais se insere: universidade e periferia. “Vejo muitas mulheres que convivem comigo que possuem o conhecimento tão vivo quanto de uma universitária, mas que não possuem um diploma e consequentemente se sentem inseguras frente a universitários e desafios profissionais”. Destaca ainda que é extremamente desanimador ver pessoas achando que da periferia só saem empregadas domésticas, pois considera que a periferia possui mentes brilhantes que aprendem a encarar a vida e a realidade dos fatos de forma bem mais realista do que universitários, que acabam se alienando do mundo real e vivendo a utopia das teorias. “A diferença latente e que eu estou incluída todos os dias é ver pessoas extremamente capazes serem massacradas pelo sistema opressor e classicista, Carolina Maria de Jesus é um exemplo claro dessa desfeita do intelecto periférico”, pontua.
Além disso, para a estudante o machismo está ‘impregnado’ na cultura brasileira sendo a única opressão que atinge todos os níveis sociais. Diz não poder falar de como a opressão se expressa nas classes mais altas, uma realidade que não conhece, mas que na periferia a cena é a mesma desde que se reconhece por gente. “Os homens oprimidos pelo sistema elitista levam as frustrações para dentro de casa e acabam descontando isso em suas mulheres e filhos. A face do machismo na favela é mais violenta pois os homens possuem tipos de opressões que homens ricos não enfrentam, o machismo de 50 tons de cinza, com um homem rico que espanca mulheres, está mais para 50 tons de roxo quando revelado na favela”, relaciona.
Karol ainda destaca o peso do racismo e considera que as barreiras são as mesmas desde que descobriu que sua pele não era morena clara mas sim negra.  A mulher não deixa que olhares ou alguns tipos sutis de preconceito a afetem pessoalmente, diz ter aprendido com várias feministas negras que o racismo pode afetar os meios em se está inserida, mas não a ponto de fazer refém pessoal disto, apesar do grande peso do racismo velado. “É notória a diferença que encontramos no tratamento e nos olhares ante pessoas da comunidade e pessoas brancas em outros meios sociais, o porquê? Porque inconscientemente nós acabamos definindo o lugar de negros e brancos, e quando um está incluso no meio social do outro, há um choque social, mas estou aí, diariamente disposta a mostrar que os negros devem e vão estar inclusos em universidades, teatros, e meios sociais considerados elitizados”, define a mulher.
Nesse sentido, a estudante considera que a luta e os objetivos das mulheres negras não são os mesmos se comparado às mulheres brancas. ”Se uma mulher negra da periferia alinha seus ombros ao das brancas elitistas na luta contra o machismo, logo as mulheres brancas conseguirão alcançar seus objetivos e subirão nos ombros das mulheres negras que lutaram lado a lado”. E ainda ressalta que a luta contra o machismo não anula a luta diária de classes. “É errado achar que nossa luta contra o racismo e contra a opressão elitista acaba quando levantamos a bandeira do feminismo, a opressão muitas vezes acontece dentro do próprio movimento. Mulheres brancas que querem que o feminismo tenha a cara e a forma européia a lá Simone de Beauvoir enquanto nós, negras periféricas queremos e precisamos de um feminismo que lute contra a opressão racial e de classe, muito mais a la Carolina Maria de Jesus”, conclui se referindo novamente à talentosa escritora negra brasileira que expunha a pobreza em seus textos. Carolina Maria de Jesus morreu sem devido reconhecimento.


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