Após três dias do lançamento de Lemonade, o mais novo álbum da diva Beyoncé, a internet já está em colapso em busca dos novos clipes que prometem dar um novo ar ao feminismo negro, também pudera, as letras das 12 faixas do disco fala sobre a mulher e seu prisma de emoções, descrito como um "projeto conceitual baseado na jornada de autoconhecimento e cura de todas as mulheres" Lemonade está levando Beyoncé a um patamar mais alto em sua carreira, enfim ela decidiu colocar o dedo na ferida e já mostra ao mundo que não pretende recuar. Algumas músicas como 'Hold Up' fala da auto estima e do poder que nós mulheres precisamos enxergar ao se encontrar com o espelho, sair da sombra de nossos homens em todos os aspectos, seja em relação a algum tipo de violência ou a sentimentos sufocantes que alguns homens insistem em implantar em nós, como o ciúmes que depois de germinado é retratado como loucura pelo mundo machista.
Já em outras faixas como a famosa 'Formation' Beyoncé delineia a o feminismo negro dentro do feminismo, e desde o lançamento a música virou um hino das mulheres negras que estão em formação contra a mídia patriarcal, mulheres negras que vêm se informando e informando outras mulheres, contagiando-as com a ideia "Black Power" além da estética. O disco vem para dar voz a mulher negra dentro do 'feminismo europeu', mostrando que nós mulheres negras temos que lidar com questões históricas e sociais como o racismo, o sexismo, além do clássico machismo. A transmissão na HBO começou com uma frase de ninguém menos que Malcom X que diz: "A pessoa mais desrespeitada na América é a mulher negra”. Isso mostra que o trabalho foi feito por uma mulher negra, estrelando mulheres negras, e para mulheres negras, especificamente para ela mesma e sua filha Blue. 
Queen B. foi seletiva ao fazer alusão a cultura africana e afro-americana através da escolha visual dos clipes, desde as roupas que apresentam diversos estilos, do poder de uma gola vitoriana (detalhe, uma negra usando gola vitoriana é muito simbólico pois era sinônimo de poder para mulheres brancas na época) à uma jaqueta camuflada, acessórios africanos, penteados que vão dos afro puffs, coquinhos  duplos, moicano no estilo das guerreiras africanas, box braids, baby hair, e um divino inspirado em Nefertiti, além das pinturas tribais,  enfim, tudo remete à algo muito interior, talvez da própria Beyoncé. A escolha das roupas me fez pensar em como o mundo da moda é algo opressor, portanto o clipe traz looks ousados e inesperados, fugindo totalmente do padrão imposto, mais uma sacada da Bey a fim de mostrar que a moda existe para servir as mulheres e não o contrário. O trabalho todo toca fundo em cada mulher negra, e por isso o álbum consegue ser o coração pulsante fora dos nossos peitos. Todas nós que orávamos todas as noites para acordar um pouco mais clara ou com o cabelo mais liso, nós que passávamos por processos horríveis e dolorosos para alisar nossos cabelos, nós que crescemos à margem da indústria da beleza, nós que fomos mães de filhos que não eram nossos enquanto os nossos estavam entregues a todo descaso do Estado, nós que fomos a última camada social, a base da pirâmide da monarquia durante séculos, nós que compusemos os maiores índices de violência doméstica, abusos, e assassinatos, nós que sabemos o que é ser trocada por uma "com o cabelo mais liso e a pele mais clara", nós que tomamos limonada para clarear nossas peles, nós, mulheres negras somos representadas por uma mulher como cada uma de nós, uma mulher que soube enfrentar a indústria que a sustenta para soltar o grito que estava preso na garganta por anos, para expor a dor que até então ficava à sombra da luz dada pela mídia ao seu marido, e para enfim, dar vida a um álbum que toca no íntimo de cada mulher negra. Beyoncé abriu as entranhas do seu peito e quando olhamos para dentro delas nos encontramos, cada uma em uma ferida diferente, mas estamos todas lá representadas por suas letras que socam os estômagos e cospem em rostos opressores.






































Bey, obrigada por cantar por nós !

Karol Lombardi


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