Turbante,
amarradinho, tignon, Ojá, torço, kawrah, tiara e por aí vai, a famosa amarração
de panos na cabeça tem tomado espaços onde jamais esperaríamos encontrar, já
foi inclusive usado diversas vezes no SPFW estreando a tendência “étnica” que tem tomado as passarelas mundo a fora. O turbante tem se tornado cada vez mais um adorno para as mulheres brasileiras, sejam
elas brancas ou negras...mas será mesmo que tratar o turbante como apenas mais
um acessório modista não é uma forma da mídia mais uma vez desqualificar culturas de matriz africana? E você sabe de onde nasceu a ideia de cobrir o
cabelo com panos?
Bem, ainda
não se sabe ao certo onde exatamente esse tipo de amarração com pano foi
criado, mais sabe-se que foi na região entre o Oriente Médio e o continente Africano, acredita-se
que antes de 570 D.C esse adorno já circulava pelo Oriente, ou seja, bem antes
do nascimento de Maomé e consequentemente da fé islâmica, mais nada se sabe
sobre o motivo do uso nesse período.
Ainda no Oriente após o nascimento de
Maomé e da fé islâmica os turbantes, ou kawrah, passaram a ser usados por seus
seguidores que acreditavam que por ser a cabeça o centro do bem e do mal, ali
deveria ser usado algo que sustentasse sua fé acima de suas próprias vontades. Assim o turbante se tornou um símbolo de lealdade religiosa. Ainda hoje Maomé é retratado usando um turbante mesmo quando exclui-se a imagem
do rosto, o turbante permanece lá.
Na índia o turbante também é usado como
símbolo da fé Sikh, e serve para distinguir os homens e mulheres por castas,
quanto maior o turbante e mais adornado de pedrarias e panos caros maior será a
associação com a alta casta. Alguns não passam de tiaras finas, mas ainda assim
deve cobrir toda a cabeça, pois também é utilizado para proteger os cabelos e
cabeça do clima desértico.
Por todo
continente africano o turbante era usado da mesma maneira que no Oriente, como
forma de diferenciar religião e classe social. Sabe-se que o Ojá, pano
cumprido que pode ser usado como
turbante enrolado na cabeça, enrolado na cintura das mulheres ou sustentando
crianças nas costas da mãe e que nas religiões africanas além de turbante, pode
ser usado rodeando o busto e terminando num laço (como na roupa de alguns
Orixás), amarrado com um grande laço ao redor dos atabaques em cerimônias
importantes, atado ao tronco de uma árvore sagrada (sua cor pode varia conforme
o Orixá). Muitas são as falácias em torno do turbante, mas não há como negar que pela cultura africana a amarração tornou-se ainda mais conhecida pelo mundo todo.
Mas uma lei intitulada
“Tignon” criada em 1786 pelo então governador Esteban Rodriguez Miró no estado
de Louisiana – EUA, me deu vontade de
usar turbantes pelo resto da minha vida todos os dias. Essa lei exigia
que as mulheres negras usassem um pano para cobrir os cabelos perante a
sociedade colonial, pois muitas noivas e mulheres da alta sociedade branca
estavam se sentindo ameaçadas pela beleza das mulheres negras ao olhos de seus
maridos. Estas regras também foram criadas para tentar conter a crescente
influência da população negra livre e manter a ordem social da época.
O edital inclui seções específicas sobre como mudar
determinado comportamento "inaceitável" das mulheres negras livres na
colônia, inclusive proibindo o que o governador e outros acreditavam que
poderia atrair atenção de homens e mulheres brancas ciumentas, como o cabelo
muito preto trançado ou o cabelo crespo preso sobre a cabeça.
Mas o que o
governador tentou impedir acabou tomando uma proporção totalmente contrária, as
mulheres negras e mestiças passaram a adotar o Tignon, mas com um toque
de criatividade. Começaram a usar belos tecidos e outros acessórios
para fazer o turbante mais atraente. No final a ideia de
que as mulheres negras chamassem menos atenção fez com que elas ficassem ainda
mais poderosas e dextruidoras meeeesmo gentchy! Elas usaram a própria lei para sambar na cara das sinházinhas! Adorei! E sabem, esta parte da história me faz sentir ainda mais orgulhoso de usar meu cabelo natural, ou cobrir minha cabeça com tecidos.
Com o passar do tempo as próprias brancas adotaram como
acessório, o que não combinou muito com a postura burguesa que sustentavam, o turbante mais tarde, acabou parando em Hollywood onde atrizes faziam o uso contínuo por ser um acessório fácil e moderno.
No Brasil, o
adereço chegou pelas mãos dos africanos que eram trazidos como escravos. As
mucamas usavam saias, blusas leves e soltas, panos e xales nas costas e
turbantes nas cabeças. O chapéu de feltro escuro e de abas largas também era
comum. Os tecidos podiam ser coloridos, e algumas andavam de chinelas. Os
cabelos eram muito curtos ou raspados. O turbante era de uso obrigatório para as escravas, por esse motivo não gosto de usar o termo “moda” para
designar a indumentária dos cativos, pois, que havia uma série de
restrições legais e econômicas que limitavam as suas escolhas. Ainda hoje
compõe o traje das baianas, uma das principais figuras típicas do país que sustentam o turbante e a vestimenta como símbolo de resistência cultural.
Tenho visto uma repercussão muito grande em torno de mulheres que adotam o
adereço por achar prático ou bonito indo contra diversos grupos de mulheres negras que utilizam como
elemento de afirmação cultural materna, e de verdade compreendo os dois lados da moeda. Brancas usando turbante me causam sim um tremendo desconforto pois me dá uma sensação de contrariedade enorme, mas enfim, acho que como o turbante já alcançou diversos níveis sociais e raciais proibir ou brigar com quem usa não trará resultado algum pois a desapropriação cultural africana está acontecendo diariamente, sendo assim, não seria mais fácil informar as brancas sobre a importância do turbante para a comunidade negra, e que usá-lo como simples acessório modista é desqualificá-lo e desqualificar toda a cultura e beleza da resistência das mulheres negras? Porque eu, particularmente, queria ver mulheres de turbante por todos os lados. Mulheres cheias de auto estima mostrando suas cores ao mundo e se tornando-se referência para meninos e meninas negras que estão caminhando para o reconhecimento da identidade racial. O meu único medo é que se perca o sentido real da parada por isso acho que o caminho é informar. Brancas conscientes entenderão e se decidirem por enfim usar o turbante será de uma maneira consciente de que aquilo que está na cabeça dela é um sinônimo de força e postura firme contra as opressões de embranquecimento (eu sei é meio ilógico mas estou partindo do pressuposto de que não há como impedir que elas usem ok). E assim, vai ter preta de turbante e se reclamar mermão, vai ter branca adepta da luta também.
Fonte:
Wikipédia, Black Pages Brazil, www.bahia.ws, Revista Black Life Brasil, História
Hoje, CurlyMangue, FInslab.