Hoje, depois de anos sem te ver, te reconheci em meio a escuridão da rua. Andava com pressa, como sempre, e já não pensava mais em você, nem sequer me lembrava da sua existência em minha vida. Andava sozinha, pensando nas coisas que te afastaram de mim, coisas em que eu insisto em pensar para afastar sua presença sombria dos meus pensamentos.
No meio dos meus devaneios ergo os olhos e avisto você, no meio da escuridão reconheço seus olhos melindrosos. Como sempre, vestindo preto, calado e sozinho como quem espera uma possível vítima em um beco sem saída.
Você que eu não via há tanto tempo parecia estar mais magro, pálido, sem vida, antes tão forte e cheio de si, exibia um corpo robusto, uma postura que transparecia seu domínio sobre mim, que após a minha ida, deixou de ter o que exibir.
De longe senti minha espinha gelar ao ver seu sorriso sarcástico com um tom de ironia como se soubesse que em breve eu iria voltar.
Fechei os olhos e todas as outras ruas do meu caminho pareceram se apagar, e você chegou perto, tão perto que eu podia sentir sua respiração ofegante e tímida, suas mãos me arrastaram pra perto de você e sua voz rouca sussurrou o que pretendia fazer de mim, e o quanto eu ainda te pertencia.
Fechei os olhos e lágrimas me ocorreram como quando criança ao me sentir sozinha na escuridão...aliás você sempre esteve ali, nos becos mais estreitos e caminhos mais escuros da minha vida, desde tão nova ouvia seus sussurros me causando vertigens com coisas tão tolas como você.
Me senti desfalecer como antes, me entregar em seus braços sempre foi a forma mais fácil de fugir da realidade, mas as lembranças pulsaram em mim e me recordaram até onde você me levou da última vez que me deixei ser possuída por você...planos inacabados, sonhos desfalecidos, amores abandonados, frases não ditas...tudo pela sua covarde presença em mim.
Abri os olhos e encarei sua face como quem encara um gigante, você me olhava e me apertava querendo causar overdoses psíquicas em mim, mas não de novo, não dessa vez.
Antes de sufocar, me livrei dos seus braços, calei a sua voz sagaz  te enfrentei como da vez em que te deixei. As ruas começaram a se acender e caminhos novos apareceram pra mim.
Me despedi de você de novo, e continuei meu caminho aos sons dos seus gritos desesperados tentando me desencorajar, mas dessa vez não meu bem, dessa vez eu não me deixei consumir pela sua inócua presença, e nem me levar pela sua perspicácia, aprendi com a vida a não ser mulher de malandro, e se o seu nome é medo, te digo que o meu é coragem.

Uhuuuul, dias para elaborar um texto sobre o meu inimigo mortal.
Karola sobre o motivo dos frios na espinha.



Quando o meu corpo encontrou esse amparo que é o seu, pensei: "em algum sonho estranho, eu já estive aqui, nesse mesmo abraço, sentindo esse cheiro que acalma toda minha alma."
Eu sabia que era possível um amor assim, talvez porque tivesse crescido iludida por livros de romances que até então, pareciam irreais. Eu sabia desde o "sua perna é gata", que teríamos uma história bonita de um amor pleno que talvez eu tenha visto no cinema numa dessas comédias românticas que sempre me deixavam boba, a espera de um príncipe encantado que me levaria para o castelo de cristal.
Mas esse amor perfeito, sendo real e possível, talvez eu nunca tenha concebido nem nas minhas mais lindas invenções de amor.
Agora eu entendo as coisas que foram ficando pelo caminho, as frases que se atiraram fora dos meus versos, as dedicatórias só com as iniciais de algum nome perdido, as fotos cheias de pessoas resultando em vidas tão sozinhas, os conflitos que encarei mesmo quando havia apenas um cansaço. Agora entendo porque eu celebrava o que eu tinha não sabendo do que eu poderia ter. Só agora eu entendo o porque dos arranhões e choros desolados. O quanto eu me preocupei em me lapidar, em me curar, o quanto eu precisei escutar pra entender quando era a hora de mudar. Tudo porque eu precisava estar pronta na sua chegada.
Falar do nosso amor é tão difícil porque não encontro um tamanho assim mesmo nas frases mais complexas que minha mente consegue formar.
Ele é essa poesia que flui, que floresce, uma estrofe acrescentada a cada dia... como uma música que precisa de uma rima perfeita para um bom desfecho, você chegou já compondo toda a melodia. Eu me emociono, meu amor, por essa manhã radiante que diariamente você desperta em mim. Eu me comovo por receber diariamente essa primavera emocional no meu peito, essa alegria toda que você sabe expandir em mim quando eu pensava que nem era mais possível. E é com a emoção de quem quer dizer sobre esse meu, seu, nosso amor que não se explica tão fácil assim, que tateio no escuro da minha mente enferrujada procurando ao menos algumas velhas e poucas palavras para te dizer que você mudou o meu mundo, o meu sorriso, e espero um dia que mude o meu sobrenome também...
Quantas cartas de amor eu pressenti, escrevi e assinei em tons de eternidade: Te amo... sendo tão estranho hoje pra mim...
Mas agora eu descubro o teu nome, E te amo, amor, já me parece ser a alma do seu nome, que enfim encontrou seu significado e sua morada permanente.